Cultura, poder e dinheiro na gestão das cidades
2000
Sinopse
Estão reunidos neste volume três textos-síntese de diferentes escritos e comunicações de Otília Arantes durante a década de 90 sobre concepções e estratégias de intervenção nas cidades com vistas a “regenerá-las” enquanto lugares devidamente “animados” pela reativação de seu valor histórico e simbólico, ou seja pelo seu “viés cultural”. Um programa de “volta à cidade” depois dos Modernos que pretende estar restituindo às suas populações uma vida pública inviabilizada pelos planos reguladores da cidade funcional. Tema central do primeiro ensaio: “A ideologia do lugar público na arquitetura contemporânea”, onde a autora traça um roteiro das teorias que dominam o debate sobre a cidade na segunda metade do século XX, animadas, desde o período de pós-guerra, do desejo de recompor o tecido urbano. Da retomada das lições de Camillo Sitte contra a “agorafobia” dos modernos, ou a defesa dos monumentos, passando pelos Ciam, especialmente o de 54 sobre o Cuore da cidade, à recuperação exemplar de Bolonha e aos diferentes contextualismos, dentre eles, o regionalismo crítico – aos quais chega a dar um certo crédito, na linha um tanto otimista de Frampton, mas para pô-los, logo adiante (no segundo ensaio deste volume), na berlinda. Em “Cultura da cidade, animação sem frase”, a nova ensaística da “cidade redescoberta” e os projetos que a ela correspondem são esmiuçados de modo a demonstrar o quanto uma tal reversão, mobilizando um aparato muito up to date, do pós-estruturalismo, especialmente das teorias desconstrucionistas, mal escondem um convívio estetizante com as formas mais extremadas de alienação, onde tudo parece obedecer ao princípio máximo da “flexibilização”. Daí o primado do desenho — do traçado urbano ao design dos microespaços — e do tipo de representação simbólica que lhe corresponde. A ênfase deixa de ser predominantemente técnica, como no período anterior, para recair no vasto domínio passe-partout do “cultural”. No momento em que as cidades passam a ser encaradas como um repertório de símbolos, tudo virou cultura. Num mundo, ao mesmo tempo dominado pelo mercado, cultura e dinheiro acabam por se dar as mãos. Simultaneamente, o processo induzido de “gentrificação” vai tomando a forma mais flexível de algo que se aproxima daquilo que os antigos “propagandistas” da identidade – referidos no ensaio anterior – passam a chamar de transculturalismo, translocalismo, nomadismo, mestiçagem, etc. Centralidade da cultura no capitalismo avançado, como enfatiza Fredric Jameson, quando assistimos à superposição, paradoxal, entre duas instâncias que, em princípio, deveriam ser antagônicas. O que vai ser explorado no último ensaio “Uma estratégia fatal, a cultura nas novas gestões urbanas”. Aparente contradição, expressa já no título, e que anuncia não uma reversão de um processo nefasto por ação da cultura, mas, ao contrário, um reforço. Nesta fase (sobretudo nos anos 90), dá-se um retorno do planejamento, mas então, designado como estratégico, visando a inserção das cidades no circuito global dos grandes negócios, e que vai agravar ainda mais o inchaço cultural, imperante desde que governantes e investidores passaram a desbravar uma nova fronteira de acumulação de poder e dinheiro – o negócio das imagens. O “tudo é cultura” da era que parece ter se inaugurado nos idos de 60 teria pois se transformado de vez naquilo que se poderia chamar de CULTURALISMO DE MERCADO, quando finalmente assistimos à convergência (quem sabe involuntária) entre as duas gerações urbanísticas que até então se imaginavam contrapostas, a dos contextualistas e a dos empreendedores, e uma assimilação a tal ponto integral que já não é mais possível distinguir dissidentes e integrados.
Palavras-chave: Lugar público, praças, monumentos, teoria do lugar, contextualismo, território, Regionalismo crítico, Benjamin, Simmel, Camillo Sitte, Cacciari, Cregotti, Rossi, Grupo Tendenza, volta à cidade, gentrificação, museus, Fredric Jameson, pós-estruturalismo, Desconstrução, Eisenman, Purini, Trienal de Milão, Planejamento estratégico, culturalismo de mercado, Cultural Turn, Paris, Barcelona, Bilbao, Lisboa, Berlim.
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