1964-2018: A que ponto chegamos?
Fala na edição especial do “seminário das quartas”, USP
2018
Sinopse
Às vésperas do dia 28 de outubro de 2018, quando o então candidato Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente, Paulo Arantes é convidado a expor um panorama político entre dois “golpes” (1964 - 2018). Deste modo, Arantes busca reconhecer que entre o golpe em sentido forte, como o de 1964 e o golpe em sentido fraco, como o que se estabeleceu por vias legais em 2016, há uma “Era geológica” que os separam. Importante para o diagnóstico que aqui se desenha, então, é colocar em pauta as diferenças entre um e outro processo, já que a semelhança imediata entre eles ofusca a novidade do caminho político posto em marcha naquele momento: a dificuldade em ler a presente conjuntura está justamente em encarar as continuidades e as rupturas do governo Bolsonaro com o golpe militar de 1964. À luz de O 18 de brumário de Luís Bonaparte, análise feita por Karl Marx no calor de 1848, Arantes vai além do diagnóstico inicial do texto: não se trata de encaixar como uma fórmula histórica à realização de um golpe o jargão “primeiro como tragédia, depois como farsa”, mas sim de encontrar o movimento real que transforma um período insurgente numa catástrofe contrarrevolucionária. A semelhança entre as Jornadas de Junho de 1848, na França, e as Jornadas de Junho de 2013, no Brasil, estaria então na sua “temporalidade política decrescente”, onde a insurgência popular, por não ter como se realizar à esquerda, é abocanhada pelo seu oposto. O desgaste democrático evidenciado ainda no governo Dilma enseja o “despertar” de uma extrema direita nas ruas, e se em 2013 foi possível que a presidente acionasse a “Garantia da lei e da ordem” contra os manifestantes, já em 2016, essa mesma garantia de lei e ordem a coloca para fora do jogo parlamentar. É nesse cenário, onde os porões da ditadura se encontram com a legalidade institucional, que Bolsonaro surge. Diferente de 1964, o presente não rompe com os planos de governos anteriores, ele apenas acentua o gerenciamento militar da sociedade civil aberto pelo “neoliberalismo inclusivo” do governo petista. Quando o General Brilhante Ustra é conclamado herói por um presidente eleito democraticamente, é preciso encarar que ele rompe não só com a “democracia”, mas com a parte progressista que os próprios democratas guardaram da ditadura.
Fala realizada em uma edição especial do “seminário das quartas”, no auditório da geografia no dia 24.10.2018, poucos dias antes do segundo turno das eleições. Depois da fala, houve um extenso debate, que não está registrado mas deve ser publicado em breve. A gravação é de Carolina de Roig Catini.
(Resenha de Nathalia Colli)
Palavras-chave: Golpe, Impeachment, Militares, Eleições 2018, Jornadas de Junho, Junho de 2013, Jair Bolsonaro, PT, 1964, Ditadura Militar, 18 de brumário, Dilma Rousseff, Guerra Fria, Democracia, Direitos humanos, STF, Militarização, Ernesto Geisel, Desenvolvimentismo, Modernização, Imperialismo, Regressão, Progresso, Neoliberalismo progressista.
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