Rainha Lira

Mesa em homenagem a Roberto Schwarz no Centro cultural Maria Antonia da USP

2023

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

A partir da leitura de Rainha Lira, última peça teatral de Roberto Schwarz, Paulo Arantes busca revelar a novidade do gênero literário diante de sua forma híbrida: embora escrita nos moldes dramáticos, a obra encontra o ensaísmo clássico do crítico brasileiro. Segundo Arantes, isso decorre a partir de certa técnica composicional cuja multiplicação de vozes está no centro da estrutura estilística. Nesta assembleia em que ninguém é interrompido, as ideias apenas seguem em fluxo contínuo formalizando certa contradição generalizada que assume ares machadianos em suas incongruências e multiplicações, dando a cada uma das personagens complexidade singular e força sintética em seu conteúdo histórico, já que a voz da multidão ficcionalizada pede interpretação cuidadosa, mesmo quando envolvida pelo linguajar das ruas. Um ensaio sui generis, portanto. Pois se trata de um retrato de época armado por um intelectual veterano de 1964 diante do problema Brasil, objeto que ocupou o centro de suas investigações ao longo da vida. Rainha Lira, assim, se consolida como a primeira manifestação artística de fôlego sobre a última década brasileira: não seria possível pensar um ensaio em seus moldes clássicos, tampouco elaborar uma dramaturgia que coubesse nos palcos, foi preciso encontrar a saída ambígua entre a flexibilidade literária e o pensamento vivo do ensaio para elaborar uma imagem do contemporâneo, sem correr o risco de cravar um veredicto final sobre o período histórico que segue em aberto. Algo como sustentar o impacto de 2013 não só na política, mas também na composição artística e intelectual, cujo abalo sísmico das ruas perturbou a paz até mesmo dos que o assistiram de suas escrivaninhas. A experiência da formação reencontra o chão da vida social e lança uma hipótese para contribuir com o enigma da história brasileira, enfim decifrado pela figuração do Coiso. E se não for assim, não há de ser um erro, já que a liberdade do texto dramático não implica necessariamente em um acerto de contas com a história.

(Resenha de Nathalia Colli)

Palavras-chave: Roberto Schwarz, Rainha Lira, Junho de 2013, bolsonarismo, ensaio, teatro, Machado de Assis, Cultura e Política, dualidade de poder, populismo.

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