A fratura brasileira do mundo

Visões do laboratório brasileiro da mundialização

2001

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Neste ensaio, Paulo Arantes volta ao passado do futuro brasileiro, isto é, a um tema recorrente na inteligência nacional, uma espécie de mitologia compensatória do conjunto de acasos históricos que prometeriam ao Brasil um futuro grandioso. Na verdade, o pressuposto de que, a despeito de nossas misérias cada vez mais explícitas, teríamos construído formas de sociabilidade e de cultura que, um dia, poderiam ser vistas como alternativas vigorosas às formas de sociabilidade do capitalismo. Ao mesmo tempo, a sensação de que sempre estamos atrasados em relação à marcha do mundo desenvolvido e, em especial, no que diz respeito às revoluções industriais e tecnológicas. Teríamos, em certa medida, um encontro marcado com o futuro e algo a ensinar ao mundo, a despeito de nossa crudelíssima modernização conservadora. No entanto, o futuro se mostrou muito mais problemático. O que aconteceu foi uma espécie de astúcia da história. No momento em que a mitologia compensatória do Brasil, país do futuro, se esvai, a forma mesma como se constituiu o capitalismo no Brasil, com seus disparates entre o arcaico e o moderno, a ordem e a desordem, o liberalismo e a escravidão, a polarização e o dualismo entre os marginais para sempre integrados “desterritorializados”, em suma, todos esses aspectos que aparentemente impediam que o Brasil alcançasse seu futuro mítico, passaram a ser vistos como características dos países desenvolvidos do primeiro mundo, em tempos de globalização, através do termo “brasilianização”. Aquilo que poderia ser nossa contribuição ao mundo, a “singularidade” da nossa cultura e das nossas formas de sociabilidade, que nunca se aburguesam totalmente, se transformaram no “novo espírito do capitalismo”. Paulo Arantes enfrenta essa reviravolta na qual o Brasil se transforma no futuro do mundo, mas pelo avesso, como tragédia social irreparável, luta de classes horizontal (pois o topo segue inatingível), estruturação das cidades em feudos, encarceramento em massa, delinquência estimulada das elites econômicas, com sua relação sem culpa na prática de delitos em conluio com o mercado financeiro. O limiar entre ordem e desordem, a nossa incapacidade de lidar com regras básicas de civilidade, a radical divisão de classe, tudo se transformou em regra mundial. Em outras palavras, a “dialética da malandragem” atua agora em escala global. (Da apresentação de Marcos Lacerda à edição portuguesa).

Publicado originalmente em 2001 como capítulo em José Luis Fiori e Carlos Medeiros (orgs.), Polarização mundial e crescimento. Petrópolis: Vozes, Col. Zero à Esquerda, 2001; posteriormente em Paulo Arantes. Zero à Esquerda. São Paulo: Conrad, 2004. E em livro, em Portugal: A fratura brasileira do mundo. Lisboa. Cadernos Ultramares, 2019.

Palavras-chave: Brasil, sociedade de risco, periferia, subdesenvolvimento, dependência, colônia, dualização, desigualdade, progresso, patriotismo, polarização, integração, exclusão, violência, trabalho, desintegração, ressentimento, brazilianization, brasilianização, globalização, economia política, cidades, Antonio Candido, Celso Furtado, Caio Prado Junior, Francisco de Oliveira, Roberto Schwarz, Gilberto Freyre, Paulo Emílio Salles Gomes, Sérgio Bianchi, Ermínia Maricato, Magnus Enzensberger, Michael Lind, Ulrich Beck, Christopher Lasch, Richard Rorty, Edward Saïd, Manuel Castells, Robert Castel, Estados Unidos, França.

Licença

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ISBN

978-65-00-17385-7

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