10 anos das Jornadas de Junho de 2013

Participação no seminário Visões de junho: textos e contextos, FFLCH USP

2023

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

O que as Jornadas de Junho de 2013 representaram para um intelectual solitário? Bem ou mal, é essa a pergunta que norteia a comunicação de Paulo Arantes no seminário Visões de Junho. Ao evocar a expressão que remete à Primavera dos Povos, em 1848, quando o povo francês tentou pela primeira vez (sem sucesso) o assalto aos céus de Paris, Arantes reelabora sua empolgação imediata com o movimento iniciado pelo MPL e justifica o exagero: essa força hiperbólica não é outra coisa senão arrebatamento. Essa simples palavra, que pode parecer parnasiana e descabida para a elaboração política, nas palavras do professor, ganha determinação histórica e força conceitual. A movimentação política é pensada, então, enquanto êxtase místico indispensável à ação militante, pelo empuxo coletivo que a crença na destruição da ordem social existente pode gerar. Como nos relembra Arantes, essa hipótese foi fortemente defendida por Carl Schmitt em sua Teologia política. Contudo, o arrebatamento místico desmistifica o fim de uma era, a saber, se trata do susto que o fim do fim da história provocou entre leigos e bem formados. Passado o tempo tedioso do revezamento institucional, iniciado com a redemocratização e a vitória de FHC, o Brasil vivencia o encontro marcado com a volta da história mundial, engrossando o caldo das revoltas iniciadas pela Primavera Árabe (outra primavera, aliás). É entre incrédulos e inebriados que assistimos o levante de movimentos sociais locais, em que novos agentes estão dispostos a contestar os acordos até então firmados para a manutenção da paz social em sociedades civis permanentemente em guerra. O pacto ruiu! Não é mais possível conceber reconhecimento à vitória vitalícia do capitalismo democrático. O fundo teológico desse arrebatamento é tão forte que mobiliza não só a esquerda autonomista, mas também os revolucionários da fé cristã, ligados à extrema direita e dispostos a disputar militarmente os portões do Armagedom que anuncia a extinção de uma vida terrena insustentável. Eis um ponto de inflexão: é preciso uma alternativa dentro do fim. Essa nova disputa é o que parece nos arrebatar. 

(Resenha de Nathalia Colli)

Palavras-chave: Arrebatamento; Extrema Direita; Fim da História; Jornadas de Junho; Teologia política.

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