Ressentimento da Dialética

Dialética e Experiência intelectual em Hegel. Antigos Estudos sobre o ABC da Miséria Alemã.

1996

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Avesso a leituras idealistas, Paulo Arantes concebe a dialética antes de tudo como uma tentativa de transcrição conceitual, de formalização, de uma experiência intelectual determinada. Se é verdade que a disponibilidade social, historicamente situada, de certos intelectuais configura uma predisposição para a dialética, a livre oscilação inerente a essa intelligentsia e a dialética de algum modo convergem. Esse cruzamento entre tendência social e esquema formal, perseguido e mapeado em suas diversas configurações, constitui a linha mestra de uma construção em vários planos. Num, a comparação do pensamento de Hegel com as outras versões modernas da dialética frequentemente desqualificadas enquanto formas subjetivas e negativas (a conversação "brilhante" da vida mundana, a ironia, o niilismo etc.), assentada por Arantes no solo comum da experiência intelectual, ao estabelecer novas pistas para a compreensão da gênese intelectual dessas dialéticas, possibilita uma apreciação ímpar da singularidade da dialética hegeliana. Uma vez resgatado o conjunto de circunstâncias que presidiu o renascimento moderno da dialética, rompe-se aqui com um procedimento secular: em vez de tomar a dialética de Hegel como um aparato lógico apto a ser aplicado aos fatos do mundo, isto é, como um método atemporal, Arantes atribui valor cognoscitivo à exposição de sua gênese histórica, tomando os seus conceitos como a transposição formalizada de nexos reais, objetivados pelo curso do mundo. Esse trânsito de mão dupla entre crítica da teoria do conhecimento (ou da cultura) e crítica da sociedade, ou ainda, em outro registro, o interesse pelo percurso intelectual e histórico da dialética atestam um diálogo crítico com a tradição do marxismo ocidental, em particular com algumas de suas obras mais notáveis. Ressentimento da Dialética não seria possível e ao mesmo tempo prescindiríamos de um de seus aspectos mais originais se não o tomássemos pelo menos como uma crítica parcial de uma linhagem que inclui, entre outros, O Jovem Hegel (mas também os estudos sobre a cultura literária alemã) de Georg Lukács; Razão e Revolução de Herbert Marcuse; Cadernos do Cárcere (em especial as partes referentes aos intelectuais e sua organização da cultura) de Antônio Gramsci; O que é a Literatura de Jean Paul Sartre (cujo conceito de má-fé é complementado aqui pelo de ressentimento); Três Estudos sobre Hegel e Dialética Negativa de Theodor Adorno. Apoiado numa leitura própria de A Ideologia Alemã, de Marx e Engels, Paulo Arantes reconstitui a história ideológico-política da moderna intelligentsia europeia. O que lhe permite-graças à afinidade estrutural entre as diversas modalidades de "atraso" histórico resultantes do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo - sistematizar as diversas circunstâncias nacionais do capitalismo retardatário (Alemanha, Itália e mesmo França). Ao lado do inegável ganho para a compreensão das particularidades do capitalismo, esse mapeamento torna-se essencial para a compreensão de uma camada, os intelectuais, cuja propensão para assumir papéis sociais conflitantes constitui o solo da dialética moderna. Seja por conta de um sentimento de missão de uma vocação dirigente, ou do próprio ressentimento que impulsionam às vezes os intelectuais a se aliar às classes revolucionárias. Essa análise importa tanto para um balanço dos êxitos e vicissitudes do marxismo como para a constituição de um futuro programa emancipatório.

(Ricardo Musse, orelha da edição original, 1996)

Palavras-chave:  Bildung, Cultura, Dialética, Diderot, Goethe, Gramsci, Hegel, Idealismo alemão, Iluminismo francês, Intelligentsia, Ironia, Lukács, Marx, Miséria alemã, Modernização, Niilismo, Periferia Europeia, Populismo russo, Rahel Varnhagen, Romantismo alemão, Século XIX.

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ISBN

978-65-00-93064-1

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