Formação e Desconstrução
Uma visita ao museu da Ideologia Francesa
2021
Sinopse
Os textos reunidos neste volume, escritos entre 1989 e 1995, encerram uma fase do pensamento de Paulo Arantes, que ele próprio faz remontar ao início dos anos 1970, quando concebeu pela primeira vez, sob o rótulo de “ABC da miséria alemã”, um projeto de redescrição da crítica da ideologia pelo filtro da experiência intelectual característica de realidades nacionais periféricas. Talvez seja bom começar por esclarecer o que esses textos não são – já que o assunto pode acarretar alguns equívocos. Com efeito, todos eles giram, em maior ou menor grau, em torno da hipótese de uma “Ideologia Francesa” no âmbito do pensamento ocidental do pós-guerra: uma criação original de Arantes, embora apoiada em um ou dois antecedentes, cujo significado será preciso investigar com algum detalhe. Limitando-nos, por enquanto, à sua inegável força evocativa, o primeiro mal-entendido seria, então, a expectativa de encontrar aqui um protesto humanista-materialista contra a Destruição parisiense da Razão na temporada pós-sartriana do pensamento francês e, em seguida, franco-americano: algo como uma crítica transcendente da hoje famigerada “esquerda pós-moderna”. Nada mais longe das intenções do autor. A reflexão de Arantes possui, de fato, em toda a sua extensão, um núcleo materialista na acepção mais básica e nunca abandonada do termo, visível na busca constante, a contrapelo da tendência socialmente necessária à autonomização das ideias, de “um sistema de mediações historicamente especificadas”, e ainda centradas na força de gravidade negativa das relações de produção material. Neste sentido, “o esclarecimento dos conflitos reprimidos e escamoteados” continua sendo reivindicado como padrão de crítica em oposição ao “calafrio” estetizante (foucaultiano, no caso) “diante da indiferenciação das formações ideológicas sem avesso” Porém, essa camada elementar é ponto de partida e não de chegada; justamente o problema da crítica da ideologia pode ser tomado como um ângulo privilegiado para se reconstruir a trajetória de Arantes, em direção a uma especificação original do seu sentido com base em coordenadas espaciais – deslocamentos periféricos – e temporais – transformações históricas do sistema-mundo. Antecipando: não se trata apenas de objeções clássicas (mas nem sempre absorvidas) ao reducionismo mecânico da determinação economicista da cultura, e sim do questionamento daquele confisco linear-progressista do materialismo histórico que ao próprio mecanicismo, aliás, fora associada desde os tempos da Segunda Internacional, e que constitui sem dúvida, junto com certas implicações locais, um dos alvos principais da crítica de Arantes – digamos – de 1964 a 2018.
(Trecho do Posfácio de Giovanni Zanotti)
Palavras-chave: Bento Prado Jr., Desconstructive Turn, Filosofia Americana, Foucault, French Theory, Gérard Lebrun, Ideologia Francesa, Kojève, Lacan, Rorty, Tradição literária brasileira, Vanguarda literária.
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