Da arqueologia do tédio para a metafísica da espera

Palestra no II Congresso Internacional W.Benjamin

2020

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Se há alguém que viveu à altura do seu tempo, foi sem dúvida Walter Benjamin, sobretudo na hora final em que o fascismo bateu à sua porta. Verificar e comprovar a atualidade de seu pensamento hoje, depende assim de uma resposta de igual envergadura à mesma pergunta cuja urgência norteou desde sempre sua vida intelectual e política: em que tempo vivemos Ora, como Walter Benjamin no entre-guerras do século passado, voltamos a viver tempos apocalípticos, um tempo de "revelações" demonstradas por desastres cuja escala nos ultrapassa, do risco de catástrofe nuclear (100 minutos para meia noite desde 27 de janeiro de 2020...) à ameaça  de extinção  da vida  no planeta. Acontece que o tempo do fim no qual passamos a viver, mesmo depois da derrota (apenas) militar do fascismo, já não  é mais o mesmo tempo messiânico em cujo poder disruptivo Walter Benjamin  ainda podia confiar, pois se tratava de um Tempo de Espera que para nós já passou, ou pelo menos assumiu uma feição que não sabemos mais reconhecer. No que segue, procuramos identificar esse primeiro termo de nossa comparação entre as duas respostas históricas acerca do tempo vivido nas dimensões  do mundo em crise permanente. Para tanto, seguimos uma pista sugerida apenas de passagem por Susan-Buck Morss, a saber, que revirando pelo avesso a experiência oitocentista dominante do "tédio" e seus desdobramentos contemporâneos, seja nas suas configurações literárias  maiores ou menores, como nos gestos emblemáticos  de personagens exemplares como o flanneur, o jogador, o homem revoltado etc, Walter Benjamin estava de fato elaborando uma verdadeira Metafísica  da Espera, aliás como tantas outras similares nas primeiras décadas do século vinte, por exemplo Kracauer, para ficar numa amostra maior e próxima, para não falar na Montanha Mágica etc. Mas uma Espera, a benjaminiana, cujo foco de expectativa máxima  irradiava paradoxalmente de todo um feixe de promessas e frustrações dramáticas sedimentadas num passado de escombros acumulados. No decorrer ziguezagueante de uma exposição própria de uma live, nos depararemos assim com as mais variadas fontes dessa construção  benjaminiana, dos bocejos satânicos dos românticos desviantes à vigília  revolucionária surrealista, passando pelo espirito  da utopia segundo Bloch e toda a legião de intelectuais dissidentes do messianismo judaico na Europa Central.  Se é verdade que precisamos reaprender a esperar, a lição de Benjamin  acerca da tradição  da esperança  adormecida no avesso do tédio mais envenenado e mortífero - e que hoje deve estar atendendo por outros nomes, do famigerado e sempre alegado ressentimento ao niilismo de massa - não  poderia ser mais atual, apesar da disparidade quase intransponível dos nossos respectivos tempos de catástrofe. 

 

Palavras-chave: Walter Benjamin, Tempo do Fim Apocalipse, Arqueologia do Tédio, A Metafísica da Espera, Scholem, Bloch, Breton, Temporização da História, A Grande Espera, Júbilo, Espera da guerra, Espera da revolução, Morrer de tédio, Expectativas nacionais, Angelus Novus, Políticas de reparação, Antonio Candido

 

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