AUTORES

Otília Beatriz Fiori Arantes é professora aposentada do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Iniciou sua vida acadêmica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se licenciou em Filosofia, em 1962. Enquanto estudante, militou no movimento estudantil, tendo feito parte da Juventude Universitária Católica (JUC) e da Ação Popular (AP) - quando conheceu Paulo Eduardo Arantes, na época, estudante de Física na Universidade de São Paulo, com quem veio a se casar. Em 1963, foi contratada como Assessora da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul para assuntos de Cultura Popular. Ao final daquele ano, tendo recebido uma bolsa prêmio, seguiu para Paris onde obteve um Certificat d’Études Supérieurs en Esthétique na Sorbonne. Lá frequentou como aluna-ouvinte vários cursos de História da Filosofia e Filosofia Geral na Universidade de Paris. Voltando ao Brasil, um ano após o golpe de 1964, viu sua família ser obrigada a se auto-exilar no Chile depois de seu pai, Ernani Maria Fiori, destacado professor de filosofia na UFRGS, ter sido expurgado pelo novo regime e, pouco depois, da UnB, novamente por ação da ditadura. Em 1966, Otília casou-se com Paulo Arantes e mudou-se para São Paulo.  No Departamento de Filosofia da USP, cursou a pós-graduação e defendeu sua tese de mestrado, em 1968, sob a orientação de Gilda de Mello e Souza, sobre a crítica de arte em Baudelaire. De 1966 a 1969, Otília deu aulas nos cursos de Ciências Sociais e Filosofia na Pontifícia Universidade Católica PUC-SP, tendo participado intensamente, em 1968, do movimento em prol da representação paritária nos órgãos colegiados da Universidade, e pela reformulação dos currículos. Um ano depois, graças a um convênio do Departamento de Filosofia da USP com o Governo Francês, Paulo e Otília partiram para Paris para preparar seus doutorados. Otília defendeu sua tese no início de 1973, na Universidade de Paris I, novamente sobre Baudelaire, tendo como orientador Bernard Teyssèdre. Alguns meses depois, após Paulo também ter defendido sua tese, retornaram ao Brasil e ao Departamento de Filosofia da USP, quando Otília foi contratada como professora da disciplina de Estética. Nos anos em que aí deu aulas, também criou, juntamente com seus orientandos, e dirigiu, o Centro de Estudos de Arte Contemporânea – CEAC, entre 1979 e 1992. O CEAC, além de pesquisa, organização de debates e cursos sobre arte contemporânea brasileira, publicou oito números de Arte em Revista. Neste período, Otília reuniu, prefaciou e publicou os textos de crítica de arte de Mário Pedrosa, em quatro volumes. Mário Pedrosa foi tema também de um livro de Otília, publicado por ocasião dos dez anos da morte do crítico, em 1991. Paralelamente, ao longo dos anos 1980, Otília foi professora convidada em cursos na graduação e pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. A partir de 1981, foi, por 25 anos, Pesquisadora 1A junto ao CNPq. Seus temas de pesquisa, livros, artigos e conferências na área de Estética, voltados inicialmente às Artes plásticas e à Crítica de Arte, passaram posteriormente, de forma mais regular, a enfocar a Arquitetura e o Urbanismo, numa revisão crítica do Movimento Moderno e das novas tendências arquitetônicas, tanto quanto das novas políticas e estratégias urbanas, com ênfase, nos últimos dez anos, nas formas urbanas extremas, a começar pela China, à qual dedicou seu último livro Chai-na.

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Paulo Eduardo Arantes é professor aposentado do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo e, desde 1980, é Pesquisador 1A do CNPq. Ingressou pela primeira vez na USP em 1962, cursando o primeiro ano de Física na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. No ano seguinte, trancou sua matrícula para atuar em tempo integral no Movimento Estudantil, como membro da direção nacional da Juventude Universitária Católica (JUC), passando a residir na cidade do Rio de Janeiro até meados de 1964. De volta a São Paulo, prestou novo vestibular e matriculou-se no curso de Filosofia, formando-se em 1967. No ano anterior, casou-se com Otília Fiori, que conhecera no movimento estudantil em 1963. Concluído o curso, Paulo Arantes tornou-se professor no Departamento de Filosofia, sendo encarregado, nos seus dois primeiros anos de docência, de seminários nas disciplinas de Lógica e Filosofia Contemporânea. Em outubro de 1969, com bolsa do Governo Francês e um auxílio da FAPESP, Paulo e Otília partiram para Paris para realizar seus doutorados. Orientado por Jean-Toussaint Desanti, Paulo defendeu sua tese sobre o problema do tempo em Hegel, na Universidade de Paris, campus de Nanterre, em junho de 1973. Reassumindo seu posto no Departamento em agosto daquele mesmo ano, nele permanecerá até sua aposentadoria, em 1998. Neste período, foi por 2 anos Coordenador da pós-graduação e Diretor da Revista Discurso, de 1976 a 1981. Após a aposentadoria, embora continuando seu trabalho de orientação de teses e supervisão de pesquisas, Paulo vai aos poucos assumindo novas tarefas na intersecção da vida intelectual e política. Uma primeira iniciativa é a criação da coleção Zero à Esquerda, concebida como uma frente ampla cultural de oposição aos novos tempos neoliberais no Brasil e no mundo. Com mais de 30 títulos publicados pela Editora Vozes, nacionais e estrangeiros, a coleção sobreviveu até 2001. Na esteira do 11 de setembro de 2001, propôs à Editora Boitempo a coleção Estado de Sítio, que continua ativa. Ainda no campo editorial, coordenou, a convite de Raimundo Pereira, entre 2003 e 2004, um suplemento mensal na Revista Reportagem. Ao longo destes mesmos dois anos, ao lado de Chico de Oliveira e Carlos Nelson Coutinho, entre outros, participou do movimento de fundação do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL. Foi nesta época que Paulo se aproximou de inúmeros coletivos culturais e movimentos sociais. Dentre os primeiros, podemos destacar seu envolvimento com o assim chamado Teatro de Grupo em São Paulo. No âmbito dos movimentos, por exemplo, coordenou de 2005 a 2006 um dos primeiros cursos de formação na recém fundada Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST. Numa esfera mais restrita, porém não estritamente acadêmica, por iniciativa de um grupo de estudantes da FFLCH USP, passou a animar um seminário livre nas noites de quarta-feira, que teria chegado aos vinte anos de atividade ininterrupta se não fosse a pandemia. O percurso intelectual de Paulo vai da esquerda hegeliana à tradição crítica brasileira, com especial destaque para a redescoberta do problema da Filosofia no Brasil, passando daí em diante à abordagem da cena ideológica e geopolítica mundial, sempre pelo prisma de nossa condição periférica.

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