Horizontes brasileiros: de qual estamos falando?

Palestra na Casa de Cultura do Parque, São Paulo

2021

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Paulo Arantes, a convite da Casa de Cultura do Parque, fora provocado a discutir sobre os “horizontes brasileiros”, tema complexo que exigiu um debate mais detido: Afinal, sobre “qual horizonte estamos falando?”, indaga o expositor. Paulo reconstrói o conceito de horizonte, perpassando por nomes centrais da sociologia, história e filosofia ocidental, entre eles: Kant, Husserl, Ernst Bloch, Gadamer, Koselleck, Benedict Anderson e outros. Sua intenção foi a de reconectar a palavra ao seu sentido histórico-político, demonstrando sua força simbólica e seus diversos sentidos, sensíveis às clivagens de classe constitutivas da realidade social brasileira. Ou seja, não há horizonte (de expectativas) e projetos de país que não sejam demarcados pela posição social que grupos e instituições ocupam no cenário nacional. Neste sentido, dois campos sociais se confrontam. Visto de cima, o horizonte brasileiro orientado para o futuro se apresenta como um projeto de construção nacional, a famosa passagem da Colônia à Nação. Visto de baixo, é experimentado pelas classes despossuídas como o horizonte sem luz de um povo embrutecido pela opressão e destinado a perecer nas trevas, conforme se lê num manifesto de operárias-costureiras em greve. Embora antagônicas e díspares, é feita de expectativas, invariavelmente condenadas à frustração pela sua condição periférica, a matéria prima da energia política que move as duas esferas em permanente colisão.

Há, porém, uma zona de contato entre ambas, operada por uma certa classe média, cujo radicalismo, ora de ocasião, ora sistemático, Antonio Candido estudou. Daí o fenômeno inusitado, e que ocupará boa parte da exposição, representada por uma franja esclarecida no topo da horrível pirâmide social brasileira. Nesse momento, Paulo Arantes abre um parêntese para um inusual estudo de caso, na figura do que chamou “pensamento Piauí”, em cujo epicentro localiza e analisa um diagnóstico de época formulado pelo cineasta e ensaísta João Moreira Salles a certa altura, no ano de 2007, acerca justamente de um encurtamento do horizonte nacional e do rebaixamento das ambições do país, que a seu ver se tornaram medíocres, em contraste com os supostos anos dourados da década desenvolvimentista. Juízo paradoxal, pois naquela quadra a grande mídia internacional anunciava e celebrava o taking off do país do pré-sal e da nova classe C empreendedora.

Passando ao polo oposto, dos desclassificados, cuja alienação violenta remonta à herança colonial, Arantes evocará, através de um rápido sobrevoo pela Tradição Crítica brasileira, as sementes de utopia plantadas em seu solo pela presença intermitente das promessas e frustrações de uma sociedade do trabalho que nunca se completa.

Ao longo de toda a exposição paira a redescoberta dolorosa, propiciada pela explosão brutal do bolsonarismo, do estado de guerra permanente que vem a ser, e sempre foi, a vida social no capitalismo. Daí a inesperada e paradoxal apreciação do renascimento do sentimento antifascista em alguns setores esclarecidos da burguesia brasileira, mesmo na hora de sua dominação sem limites.

(Resenha de Rafael Cosentino)

 

Palavras- Chave: Antonio Candido, Benedict Anderson, Classes sociais, Ernst Bloch, Escravidão, Gadamer, Guerra Permanente, Horizontes de expectativas, Husserl, João Moreira Salles, Kant, Koselleck, Nação, Nacionalidade, “Pensamento Piauí”, Projeto de país, Revolução, Simone Weil, Trabalho, Utopia, Violência estrutural.

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