Filosofia e crise da civilização brasileira

Entrevista a Caio Souto em Conversações Filosóficas

2020

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

O argumento desta conversa gira em torno de uma possível resposta "filosófica" - mais precisamente, nos termos da cultura filosófica institucionalmente aclimatada em São Paulo em meados do século passado - ao processo de descivilização, como poderia dizer Norbert Elias, cuja aceleração estamos vivendo desde que a sociedade brasileira dobrou espantosamente à direita e levou ao poder todo um projeto de reversão radical das expectativas progressistas descortinadas há cinquenta anos com o fim da Ditadura. O título desta intervenção não só parafraseia um enunciado similar do fenomenologo Edmund Husserl, como remete à tese central de seu derradeiro apelo à razão diante da irresistível escalada do nazifascismo na Europa dos anos 30, a saber: só uma restauração da Filosofia, em sua inteireza original de orientação  no mundo da vida à luz da estrela guia da Teoria enquanto visão da verdade, poderia reverter a destruição fascista em andamento da razão.  Ocorre que esta flagrante ilusão ilustrada de classe média reformadora -iniquidade social e mentalidade esclarecida são incompatíveis- encontra-se na base da resposta da cultura filosófica uspiana ao Golpe de 1964. A exposição partirá então, da persistência de longa duração dessa aposta nos efeitos políticos do Esclarecimento, para um sobrevoo histórico até o desmantelo atual, ao longo do qual se destacará a peculiaridade maior da assim chamada civilização brasileira, uma invenção de  nosso Alto Modernismo artístico: a idéia de que a régua e o compasso da construção  nacional por vir deveria ser buscada numa cultura de fundo popular historicamente pacificadora e antiburguesa. Seria então o caso de verificar se a miragem desta convergência entre utopia estética  e utopia social não teria começado a se desfazer bem antes de seu defecho catastrófico atual. Restaria saber se ainda se poderia chamar de filosófica a reação mais apropriada a um acontecimento extremo e monstruoso como esse, o naufrágio de toda uma civilização material e espiritual de um país além do mais periférico. 

Palavras-chave: Crise, Extinção, Emergência, Crítica dialética, Hegel, Marx, Adorno, Filosofia, USP, Antonio Candido, Roberto Schwarz, Jornadas de junho de 2013, Civilização, Antropoceno, Antropofagia, Francisco Bosco, Caio Souto, Conversações filosóficas.

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