Ainda se trata de era atômica: o tempo do fim

Conferência no Seminário Hegel e a Política

2020

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Por mais que possa parecer ultrapassado, não há nada de anacrônico em dizer que estamos em plena Era Atômica. Paulo Arantes reconstitui o itinerário histórico da Idade Nuclear e seus intérpretes, demonstrando como nela se encontra a origem política de questões como o aquecimento global, o antropoceno e mesmo a crise pandêmica em curso. As implicações políticas e filosóficas dessa mudança epocal invisível, recalcada na euforia progressista da derrota do nazismo e do fim da Guerra Fria, são lidas através do roteiro de Günther Anders. Aqui, a incomensurabilidade própria do horizonte de destruição nuclear terá ancoragem não apenas no avanço tecnológico da modernização, como também na experiência material de desresponzabilização moral ligada ao processo de instrumentalização do trabalho. É também o que explica o desaparecimento da ideia de futuro: com os indivíduos desconectados das consequências de sua atividade, cada vez mais subsumida aos encadeamentos cumulativos do trabalho de zelo, a própria noção de fim torna-se um ponto cego da ideia de progresso. Por isso a tarefa política do “tempo do fim” é formulada como um esforço de adiar o “fim dos tempos”, que no entanto não chega a ser inexorável. Recuperando o debate europeu sobre a crítica ao “fetichismo nuclear”, Arantes aponta como essa cegueira também acometeu boa parte da intelectualidade de esquerda, que se recusou a levar até as últimas consequências o novo paradigma inaugurado com a Bomba. O último movimento da conferência se volta para a periferia e procura dar conta de como esse tempo do mundo é vivido pelo filtro das expectativas brasileiras. Se por um lado a tônica ascensional e modernizadora de superação do subdesenvolvimento aparece em estranho descompasso com os ponteiros do “tempo do fim”, um olhar atento para as intuições poéticas de Carlos Drummond de Andrade guardará um importante poder de revelação sobre os impasses dessa era do “mundo como alvo”.

Realizada no dia 17 de dezembro de 2020, a conferência fez parte do ciclo primeiro ciclo de Web Seminários “Hegel e a Política, novos rumos”, promovido pela revista Estudos Hegelianos e organizado pelos professores Emmanuel Nakamura (Unicamp), Fábio Nolasco (UnB), Inácio Helfer (Unisinos), Polyana Tidre (Unisinos) e Ricardo Crissiuma (UFRGS).

(Resenha de Artur Renzo)

 

Palavras-chave: Era Atômica, Bomba Atômica, tempo do fim, Günther Anders, Martin Heidegger, Carlos Drummond de Andrade, Celso Furtado, subdesenvolvimento, novo tempo do mundo, progresso, trabalho de zelo, horizonte de expectativas, mundo como alvo, imperialismo, fetichismo nuclear, sociedade de risco, antropoceno, pandemia, Guerra Fria.

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